A hanseníase é uma doença infectocontagiosa que até o ano de 1976 foi conhecida como LEPRA que traduzindo do hebraico a palavra "tsaraáth", significa desonra, vergonha, desgraça. Porém traduzindo a palavra lepra, derivada do grego, "λέπρα (derivado de λέπω «descamar» - lepros - siginifica manchas na pele, conforme definição de Hipócrates.
Em hieróglifos do ano de 1350 a.C., há evidências de que a doença existiu há mais de 3.000 anos. Na Bíblia Sagrada há várias passagens que fazem menção ao nome lepra, contudo este nome era usado para definir pessoas com outras doenças dermatológicas como a psoríase, dentre outras. Pessoas acometidas por lepra eram diagnosticadas pelos sacerdotes, conforme a lei israelita antiga. A lepra
era até mesmo associada ao pecado que a pessoa teria cometido ou um
castigo dos deuses.
Durante muito tempo, uma pessoa acometida de lepra, era enviada de forma compulsória à cavernas, leprosários até a morte, sem nenhum tratamento. Nos tempos mais antigos, eram até mesmo apedrejadas se saíssem do isolamento. Nos tempos da Idade Média, os leprosos anunciavam a sua presença portando sinos, obrigatoriamente.
No Brasil também existiam leprosários. Os portadores de lepra eram obrigados a viver isolados. Os hospitais Sanatório Aimorés em Bauru/SP e o Hospital Curupaiti em Jacarepaguá/RJ eram leprosários.
Em 1976, o nome lepra foi mudado, passando a ser chamada de Hansíenase quando foi descoberta a causa da doença, mas desde 1962 a lei que obrigava enviar os doentes para os leprosários foi revogada.
DEFINIÇÃO
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo agente etiológico Mycobacterium leprae (Bacilo de Hansen) descoberto pelo cientista Gerhard Hansen em 1873.
A doença acomete principalmente a pele e nervos, mas pode atingir também os olhos e outros órgãos. A bactéria prefere as áreas frias do corpo como lóbulo das orelhas, joelho e cotovelo.
É uma doença de notificação compulsória junto ao Ministério da Saúde. O tratamento é oferecido gratuitamente pelo SUS.
INCIDENCIA/PREVALÊNCIA
A hanseníase pode ocorrer em adultos, crianças e idosos de qualquer classe social. Para isso é preciso ter contato prolongado com o bacilo.
Aqui no Brasil, entre os anos de 2007 a 2011, surgiram 37.000 casos novos a cada anos, segundo o Ministério da Saúde.
TRANSMISSÃO
É transmtida por vias respiratórias, secreções nasais ou gotículas de saliva de pacientes multibacilares não tratados (virchowviano e dimorfo).
O período de incubação varia em média de 2 a 7 anos. Há pacientes com poucos bacilos (paucibacilares-PB) e os que possuem muitos bacilos (multibacilares-MB), sendo estes últimos um grupo contagiante quando ainda não foram submetidos a tratamento.
Após iniciar o tratamento, em 15 dias não há mais ameaça de transmissão da doença.
FORMAS DA HANSENÍASE E SINTOMAS
FORMAS PAUCIBACILARES (PB)
- Indeterminada: a lesão inicial da doença é uma mácula hipocrômica (manchas claras/brancas), sem sintomas, geralmente com pouca ou nenhuma sensibilidade, podendo ser acompanhada de alopécia ou anidrose (ausência de suor). Essa forma de hanseníase evoului para a cura de forma espontânea, mas em 25% dos casos evoluirá para outras formas em um período de 3 a 5 anos. É mais comum em crianças.
- Tuberculóides: é caracterizada pela lesão em placas, eritematosas, com bordas
delimitadas, sendo geralmente pouco numerosas. Há perda de sensibilidade local (tátil, calor, dor, com excessão eventualmente, em lesões da face. Pode ocorrer alterações nervosas nas lesões cutâneas e também nos troncos nervosos podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular. Em crianças de 1 a 4 anos pode ocorrer a forma nodular infantil quando há uma pessoa com a forma multibacilar no seu convívio. A forma nodular é caracterizada por lesões papulares ou nodulares, principalmente na face.
- FORMAS MULTIBACILARES (MB):
- Virchowwiana: há presença de nódulos, placas extensas de tonalidade ferruginosa e infiltração difusa da pele. Essa infiltração na face e lóbulos de orelhas, com perda dos pêlos da sombrancelha (madarose), causando um aspecto conhecido por face leonina. Pode ocorrer também perda de sensibilidade dos pés e das mãos, acometimento da laringe causando rouquidão, bem como pode atingir órgãos internos como fígado, baço, testículos e suprarrenais.
- Dimorfas (ou boderline): caracteriza-se por lesões mais numerosas, sendo característica
a lesão em placa tipo "queijo suíço" com o centro da lesão aparetemente poupado. O acometimento dos nervos é mais extenso podendo ocorrer neurites agudas (lesão inflamatória ou degenerativa dos nervos), com prognóstico comprometido.
COMPLICAÇÕES FREQUENTES
- Tipo I ou reação de reversão: é caracterizado pelo aparecimento de febre, mal estar geral, artrites, neurites, além do agravamento das lesões cutâneas.
- Tipo II ou eritema nodoso hansênico: essa reação é acompanhada de febre, hepatites, adenomegalias, neurites, lesões cutâneas, iridociclites (inflamação da íris) e orquiepididimites (inflamação dos testículos). No tipo II as lesões cutâneas caracterizam-se por pápulas e nódulos dolorosos localizados em locais diferentes que os acometidos pelas lesões específicas.
DIAGNÓSTICO
Clinicamente, por meio do exame dermatoneurológico o médico avalia as alterações da pele e neurológicos. Essa avaliação poderá ser associada ao teste da histamina para verificar se ocorre a tríplice reação de Lewis e ao teste de pilocarpina para avaliar a sudorese local.
Outras formas de diagnóstico podem ser realizados por meio de
- Intradermorreação: mede a capacidade de formação de granuloma do tipo tuberculóide.
- Baciloscopia: é colhido o suco dérmico da lesão, lóbulos da orelha, cotovelos e joelhos para verificar a presença de bacilos.
- Exame histopatológico: é muito importante para fornecer dados para a classificação da forma da hanseníase e escolha do tratamento. Formas paucibacilares são caracterizadas pela presença de granuloma do tipo turbeculóide com escassez de bacilos ao passo que as formas multibacilares, o granuloma é do tipo macrofágico com células de citoplasma espumoso (células de Virchow) com muitos bacilos.
- Outros exames: poderão ser solicitados outros exames conforme a necessidade que será avaliada pelo médico.
TRATAMENTO
O tratamento adotado é o mesmo proposto pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil é a PQT (poliquimioterpia). A associação das substâncias utilizadas são utilizadas para evitar a resistência bacteriana ao medicamento, evitando a evolução do doença, levando à cura. A PQT é administrada por meio de um esquema padrão de acordo com a forma apresentada pelo paciente: PB ou MB.
Para um tratamento com resposta positiva é muito importante classificar a hanseníase corretamente, de acordo com a OMS (1988): paucibacilar com baciloscopia negativa e multibacilar com baciloscopia positiva. Em caso de crianças, as doses são ajustadas de acordo com a idade e peso.
Para os paucibacilares (PB) o tratamento é feito em 6 meses. E assim, durante esse período, o paciente mensalmente buscará o esquema de medicação para realizar o tratamento.
Para os multibacilares (MB) serão submetidos à um tratamento de 12 meses. Caso o tratamento não apresente resposta positiva, poderá ser prolongado por 24 meses.
Em
geral, o tratamento é ambulatorial e está disponível nas unidades
públicas de saúde. Caso a pessoa apresente intolerância à medicação será
feito um esquema subsititutivo.
SURTOS REACIONAIS
- Reação do tipo I: o tratamento preconizado é o corticosteróide.
- Reação do tipo II: o eritema nodoso hânsenico é tratado com a talidomida. Quando ocorre associação de manifestações extracutâneas, como neurite, iridociclite ou artrite em indivíduos do sexo masculino medicados com talidomida deverá ser administrado corticóides para diminuir as sequelas. A suspensão dos corticosteróides deverá ser lenta e gradual.
MEDICAMENTOS
Os medicamentos utilizados no tratamento da Hanseníase são: Rifampicina (antibiótico), Dapsona, Clofazimina, Talidomida e Metilprednisolona, com doses PRESCRITAS e SUPERVISIONADAS de acordo com a necessidade do paciente.
A alta será liberada após a administração do número de doses estipulado do esquema prescrito.
PROFILAXIA
É importante observar o surgimento de novos casos principalmente quando há contato de familiares com pacientes portadores da doença. É recomendado o exame clínico anual dos comunicantes domicilares dos pacientes. Em caso de pacientes multibacilares, os pacientes deverão ser acompanhados por 5 anos e dos paucibacilares, por 2 anos.
A vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) deverá ser aplicada em pessoas que possuem contato com portadores da hanseníase como uma forma de aumentar a imunidade contra microbactérias. O esquema deverá ser de duas doses com intervalo de 6 meses no local da cicatriz da vacina BCG anterior.
Dúvidas podem ser esclarecidas por esse mesmo meio de comunicação ou através de www.facebook.com/drnelsonmeneghellofh
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