quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE DROGAS

O uso de substâncias psicoativas estão presentes na vida do ser humano desde os primórdios da civilização, apresentando características e significados diversos de acordo com o agrupamento humano e com a época.

É observado alguns tipos de interação ou relacionamento entre a droga e o indivíduo: além da dependência, alguns usam como recreação ou ocasional e o uso nocivo em que a saúde será severamente comprometida.

Nem todas as pessoas que fazem uso de drogas lícitas ou ilícitas desenvolvem dependência, contudo estão mais vulneráveis a tornarem-se viciadas. 

Há casos em que a pessoa não é viciada, porém quando usa a substância, ela o faz de maneira excessiva. À esse quadro dá-se o nome de Intoxicação Aguda e se manifesta por alterações de consciência e funções cognitivas, alterações de senso-percepão e comportamento, frequentemente acompanhado de sinais neurovegetativos específicos (urinar em excesso, ondas de calor e/ou frio, palpitação, transpiração mal estar, medo, dentre outros), de acordo com a substância ingerida. 

Como consequência de muitos casos de Intoxicação Aguda, cita-se inúmeros casos de acidentes de trânsito causados por motoristas alcoolizados ou cannabis (maconha), de acordo com estudos.

Existem vários transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Frequentemente, há utilização de duas drogas ao mesmo tempo.

FREQUÊNCIA

O uso de álcool e drogas são os mais altos em termos estatísticos. O uso de álcool entre alunos do ensino fundamental e médio em 10 capitais brasileiras é de 65%, contra 25% do uso de drogas. 

SINAIS E SINTOMAS

Os efeitos causados pelo uso ou abuso de uma substância psicoativa depende de vários fatores, como: o tipo e a quantidade da substância utilizada, via de utilização, características da personalidade do usuário e condições ambientais onde se há o uso da substância. Segue abaixo os efeitos mais frequentes que estão relacionados ao uso de algumas drogas psicoativas:
  • Cannabis (maconha ou haxixe): Excitação seguida de relaxamento, euforia, distorções na avaliação de tempo e espaço, logorreia (fala compulsivamente), hiperfagia (fome excessiva), alucinações (predomina as visuais), palidez, taquicardia, hiperemia conjuntival (olhos vermelhos), pupilas dilatadas, boca seca, ansiedade intensa, pânico, síndrome amotivacional (isolamento social, retardo psico-motor, etc), temor de loucura e quadros psicóticos paranõides (mania de perseguição, dentre outros);
  • Alucinógenos (LSD, cogumelo, mescalina): são similares aos da Cannabis, contudo há presença de fenômenos alucinatórios e delirantes com mais intensidade;
  •  Cocaína (cocaína "pó", "brilho", crack, pasta-base) e Anfetaminas: Excitação, euforia, diminuição do cansaço, irritabilidade, insônia, perda do apetite, logorreia, agitação psicomotora, taquicardia, sudorese, hipertensão arterial, mídriase (redução do tamanho das pupilas), hipertemia (aumento da temperatura corporal). Há presença de quadros psicóticos similares a surtos esquizofrênicos (idéias paranóides e alucinações). Alguns casos evoluem para complicação cardiovasculares (insuficiência cardíaca, AVC hemorrágico, infarto do miocárdio, convulsões e coma;
  • Design Drugs (meta-anfetaminas, ice; MDMA, ecstasy, MDA, DEA): Similares aos da Cocaína, porém há mais exacerbação do tato e visão e da afetividade. Pode causar mais efeitos além dos causados pelo uso da Cocaínas/Anfetaminas, em alguns casos com evolução para óbito. Os quadros mais graves apresentam síndrome hipertérmica, insuficiência hepática causada por hepatite tóxica e que pode ser irreversível e morte relacionada à alterações cardíacas.
  • Anticolinérgicos (Artane, Akineton, "chá de lírio, "saia-branca", "véu de noiva", "trombobeteira", "zabumba"): Boca seca, retenção urinária e fecal, ciclopegia (paralisia da íris), taquicardia, contração/redução das pupilas, hipertermia, hipotensão, convulsões e delirium.
  • Opiáceos - analgésicos fortes - (Dolantina, Meperidina, Demerol, Algafan, Belacodid, heroína, Morfina, ópio e outros medicamentos a base de codeína): Sensação de orgasmo seguida de sonolência e estupor (a pessoa não responde, não tem reação), miose (dilatação das pupilas), depressão do Sistema Nervoso Central (depressão respiratória, hipotensão, sonolência e coma). 
  • Barbitúricos (Optalidon, Fiorinal, Gardenal, Tonopan, Nembutal, Comital, Pentotal): calma, relaxamento, sonolência, sensação de embriaguez alcoólica, desinteresse,  midríase (contração das pupilas), depressão respiratória e coma.
  • Solventes (Lança-perfume, "loló", colas, gasolina, acetonar, thinner, água raz, éter, benzina, esmaltes e tintas): sonolência, euforia, distorções perceptuais, tosse, rinorréia (corrimento nasal), náuseas, vômitos, mialgias (dores musculares), rebaixamento de consciência, fala pastosa (falta de coordenação da boca para falar), diplopia (visão dupla de um único objeto), perda do controle muscular, tentativas de suicídio, atrofia muscular, depressão respiratória e parada cardíaca.
  • Benodiazepínicos (Diazepan, Diempax, Valium, Librium, Lorax, Rohypnol, Lexotan): Relaxamento e sedação, fala pastosa, incoordenação motora, marcha instável, confusão mental, bradicardia e dispnéia (dificuldade para respirar).
 DIAGNÓSTICO 

É fundamental para que seja avaliado se há necessidade de tratamento e qual deverá ser adotado. É muito importante que se realize um diagnóstico amplo que venha abranger não apenas a farmacodependência, mas também seja capaz de indentificar outros problemas psiquiátricose/ou clínicos associados. 
É necessário muito cuidado para diferenciar padrões de uso que caracterizam dependência ou uso abusivo daqueles que caracterizem uso ocasional. Isso é muito importante no trabalho com adolescentes, pois muitas vezes são trazidos pelos pais que estão desesperados com a descoberta (ou suspeita) do uso de drogas.  

TRATAMENTO

Após ter sido diagnosticado a Síndrome de Dependência de Substâncias Psicoativas, é importante a avaliação individualizada do paciente, procurando estabelecer ou não a existência de outros transtornos como depressão e ansiedade, assim como uma avaliação rigorosa. 
O tratamento será traçado em sintonia com a vontade e as necessidades do paciente, utilizando-se das diferentes modalidades terapêuticas existentes, combinadas caso a caso.
  • O tratamento ambulatorial seria a primeira modalidade terapêutica adotada, pois nenhum estudo indica que a internação seja mais eficaz em termos de resultados a longo prazo que o tratamento ambulatorial, além da internação ser dispendiosa em termos financeiros e sociais (afastamento do trabalho, escola e afetar a família). A internação deverá ser de curto período e utilizada apenas para casos extremos, como por exemplo, nos casos em que há risco de suicídio.
  • O paciente procura ajuda num momento chamado de "crise toxicômana". Essas pessoas, muitas vezes, apresentam sofrimento profundo, são "prisioneiras do momento" . Considerando a grande dificuldade dos dependentes em aderir ao tratamento bem como permanecer, os estudos ressaltam a importância do vínculo social. Quanto maior a gravidade do paciente, maior a importância da aliança terapêutica no início do tratamento. O acolhimento do paciente e o engajamento são fatores preditivos de prognóstico a ele relacionado.
Estabelecido o diagnóstico de abuso ou dependência de drogas, a avaliação psiquiátrica deverá prosseguir para identificar se há outra comorbidade, como depressão, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), que são comuns em pacientes desse grupo.

As principais drogas ilícitas consumidas são maconha e cocaína. A administração aguda de cocaína produz aumento intracelular de Dopamina, Serotonina e Noradrenalina. Já o seu uso crônico leva à dessensibilização do sistema monoaminérgico fazendo com que possa haver relação com a depressão e com o craving que ocorrem quando a cocaína é suspensa.

O caving ou fissura é definido pelo desejo intenso, e por vezes, irrestível de usar a substância pela qual a pessoa faz uso. É acompanhado de sintomas de ansiedade variável, podendo incluir sensação de morte iminente, relacionados ao desejo do uso. Há também relação com a recaída. 

O resultado do tratamento com medicações utilizadas para a dependência da cocaína são inexpressivos. Até o momento não nenhuma medicação eficaz para tal. Há medicações que são receitadas para evitar a fissura ou craving, porém não há nenhuma comprovação científica.

No caso de pacientes dependentes de Opióides, podem ser indicadas terapias de substituição de drogas, para que ocorra a desintoxicação, que no caso da heroína pode ser muito difícil. Os substitutos da Heroína são opióides de ação prolongada com intuito de estabilização da vida do indivíduo para que depois seja realizada a desintoxicação

A substituição pode ser vista como uma medida para reduzir-se os danos apesar do paciente continuar dependente  de uma substância, contudo menos prejudicial ao organismo, pois é utilizada uma dose terapêutica e com acompanhamento médico.

Muitos pacientes usuários de crack  relatam usar cannabis para aliviar a fissura de crack. 

É importante que seja tratado também os quadros comórbidos para uma evolução positiva do paciente. Principalmente quando há presença de depressão. Uma vez que reduzida a depressão poderá ser reduzido também o consumo de drogas.

A terapia poderá ser: psicoterpia individual ou em grupo, terapia ocupacional, oficinas terapêuticas e abordagem familiar. Nessa fase de terapia, o paciente também poderá precisar reestruturar a sua vida devido aos danos causados por anos de dependência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante lembrar que apenas 35% dos dependentes químicos procuram ou permanecem em tratamento.  Para aqueles que não querem ou não conseguem, tem sido empregado uma política de Redução de Sanos (RD). A estratégia mais difundida é a disponibilização de seringas estéreis e preservativos com o objetivo de reduzir contaminações por AIDS e Hepatites virais.

Fonte: Atualização Terapêutica -  Diagnóstico e Tratamento
Prado/Ramos/Vale 
 













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